Pasta de dente com flúor, pouco flúor ou sem flúor?

O flúor é, sem dúvida, a substância mais eficaz para evitar cáries – esta é uma verdade científica. A presença de flúor na pasta de dentes das crianças é considerada essencial para controlar a cárie. Criança que não usa pasta de dentes com flúor começa a perder a batalha contra as cáries.

 

Você provavelmente já escutou de alguém ou de algum dentista que crianças que não sabem cuspir devem usar pasta de dente sem flúor ou com pouco flúor ou você já leu que flúor faz mal às crianças, certo? Através desse post vou tentar resolver algumas dúvidas. Existem vários mitos sobre o flúor, mas o que é verdade científica. Leia este artigo até o fim e você vai se convencer de que flúor é essencial para seu/sua filho/a. Venha comigo!

 

Sabe como o flúor atua no controle da cárie?

 

A cárie é provocada por dois fatores: a organização de bactérias bucais na superfície dos dentes, formando a chamada placa bacteriana ou biofilme dental (aquela “natinha” que aparece sobre os dentes enquanto você ainda não fez a escovação); e a ingestão frequente de açúcar.

 

O açúcar consumido é transformado em ácidos pela placa bacteriana, provocando a dissolução do esmalte dos dentes por um processo chamado desmineralização. O processo de desmineralização pode ser parcialmente reparado pela saliva, através de um processo inverso conhecido como remineralização. Se o flúor estiver presente na boca a desmineralização é reduzida e a remineralização dos dentes ativada, reduzindo o efeito final do processo de desenvolvimento de cárie.

 

Agora você já sabe como o flúor age no combate as cáries. Mas a internet traz muita coisa sobre o uso de pastas de dentes infantis, gerando alguma controvérsia até mesmo entre dentistas. Algumas dessas coisas deriva de palpites sem base científica; outras são movidas por interesses comerciais um tanto escusos. Você, que é mãe ou pai, vê uma controvérsia dessas e fica em dúvida. Onde estará a verdade científica que vai proteger meu filho?

 

O que vou explicar a seguir é baseado em estudos científicos sérios, e não em certos interesses comerciais duvidosos, destinados a vender tal ou qual pasta de dente. Por que você deve acreditar em mim? Primeiro, porque eu vivo estudando as novidades científicas. Segundo, porque eu tenho um argumento definitivo: em tese, quanto mais criança com cárie, mais meu consultório encheria. Mas eu não estou preocupada em encher meu consultório. Estou preocupada em que as crianças do meu país tenham uma verdadeira saúde bucal, UM MUNDO SEM CÁRIES.

 

O que se diz por aí sobre flúor? Muita gente diz por aí que o flúor faz mal, que em hipótese alguma a criança deve engolir flúor. Vamos buscar a verdade e quebrar os encantos, então.

 

Acho importante que você entenda o porquê da adição de flúor na água de abastecimento e na pasta de dentes. Em 1988, depois de muitos estudos, ficou cientificamente comprovado o papel do flúor na redução da cárie. Logo surgiram no mercado as primeiras pastas de dentes contendo flúor na composição (lembra da Kolynos amarela?). O flúor virou panaceia bucal: era um tal de flúor na água, flúor na pasta de dentes, flúor no dentista.

 

As mães e pais dessa época devem se lembrar: nós, então crianças, íamos ao dentista e ficávamos uma hora com uma moldeira cheia de flúor na boca (confesso que adorava aquele gostinho). A bem da verdade, no começo o uso do flúor foi meio descontrolado: não havia uma supervisão rigorosa da quantidade de pasta colocada na escova. As crianças tinham livre acesso à pasta de dentes. Mais que isso, muitas crianças comiam pasta de dente para curtir aquele gostinho saboroso.

 

Com o passar dos anos começaram a pipocar adolescentes com dentes manchados. Só então a ciência pôde constatar que aquelas manchas brancas eram fluorose – excesso no uso de flúor. O flúor ingerido em excesso pelas crianças entrava na composição dos dentes permanentes que estavam sendo formados ainda dentro do osso. Esses dentes permanentes nasciam com manchas brancas.

 

Então a Odontologia se deu conta de que flúor protege os dentes quando é usado na medida certa; em excesso, ele causa fluorose. Logo se constatou que crianças que ainda não sabem cuspir deveriam usar pasta de dentes sem flúor ou com pouco flúor. Após essa constatação surgiram as pastas dentes sem flúor ou com pouco flúor que estão até hoje no mercado.

 

Parecia que estava tudo resolvido. Mas depois de alguns anos em que as crianças usaram pastas de dentes sem flúor ou com pouco flúor, o que aconteceu?

 

Adivinhe!

 

Pois é, o índice de cáries infantis voltou a crescer consideravelmente. A ciência voltou a mergulhar em pesquisas para descobrir qual seria o uso correto de pasta de dentes pelas crianças – um nível que protegesse das cáries, mas não provocasse fluorose.

 

A ciência e o bom senso descobriram o que a vida vive nos ensinando: tudo, inclusive o flúor, deve ser usado na medida certa. E sim – flúor deve ser usado pelas crianças.

 

Agora que você entendeu isso vai, naturalmente, ter uma série de perguntas na ponta da língua, não é mesmo? Quando toma flúor na água e engole uma parte do creme dental durante as escovações, a criança não estará tomando flúor demais? Devo usar pasta de dente sem flúor para assegurar que meu filho não terá fluorose? Ou devo usar a pasta com menor quantidade de flúor?

 

Qual pasta de dentes usar? COM flúor, com pouco flúor ou SEM flúor?

 

  • Usar SEMPRE pasta de dentes COM flúor a partir da erupção do primeiro dentinho, independente da idade e se a criança engole ou não a pasta.
  • A pasta de dentes deve conter no mínimo 1100 ppm de flúor.
  • As quantidades que vão variar de acordo com a capacidade da criança de cuspir ou não.
     

Mas então crianças menores de dois anos podem usar pasta de dentes fluoretadas?

 

SIM, podem e devem usar. Para diminuir o risco de fluorose, ponha na escova uma pequena quantidade, equivalente a um grão de arroz, de pasta de dentes com concentração convencional (acima de 1100 ppm) de flúor. A escovação deve ser SEMPRE realizada pelos responsáveis pela criança, até que ela aprenda a escovar seus próprios dentes. Esta não é apenas uma recomendação minha. É também a recomendação formal da Associação Brasileira de Odontologia, da FDA (a ANVISA americana) e da Academia Americana de Odontopediatria.

 

“Doutora meu filho vai pra escola e não sabe cuspir, qual pasta enviar pra escola?” Escuto muito essa pergunta. Vamos deixar claro que a pasta de dentes com flúor é indicada para crianças que não sabem cuspir, desde que com rigoroso controle dos pais. Quando for uma situação em que você está em dúvida se há controle, use uma pasta de dentes sem flúor. Por exemplo na escola.

 

À medida que seu filho crescer, controle o flúor através da quantidade de pasta colocada na escova. Use esta fórmula:

 

  Crianças até 3 anos ou que não sabem cuspir Crianças acima de 3 anos ou que já sabem cuspir
Pasta de dentes  

COM FLÚOR

 (acima de 1100 ppm de flúor)

COM FLÚOR

(acima de 1100 ppm de flúor)

Quantidade  

Grão de Arroz

(encostadinha na escova)

Grão de Ervilha

 

 

Você ainda pode usar uns truques para minimizar a eventual ingestão de flúor pelo bebê. Quando for escovar os dentes do seu filho, deixe uma fralda de pano ao lado; ao finalizar a escovação, remova o excesso de espuma e saliva com a fralda.

 

Outro cuidado importante para minimizar a ingestão é não fazer a escovação no momento em que a criança esteja em jejum. A principal indicação da escovação é fazê-la após as refeições. Seguir essa recomendação ajuda a minimizar a ingestão de flúor.

 

Assim, se você escovar os dentes de seu filho até 30 minutos depois das refeições, a absorção de flúor será de 40 a 60% menor do que se escovar no momento em que ele/a estiver de estômago vazio.

 

Usando a quantidade indicada, fique tranquila. Seu filho não correrá nenhum risco de sofrer fluorose nos dentes permanentes.

 

Mas esteja sempre alerta: a criança pode brincar com a escova, mas não deixe que ela brinque com a pasta de dentes. E principalmente, não deixe que a “coma”. Mantenha o creme dental sempre longe da criança, até que ela se mostre madura para entender que não pode “comê-la”.

 

Ao comprar a pasta de dentes de seu filho, olhe sempre o teor de flúor na composição da fórmula. Decida-se por aquelas que tiverem pelo menos 1100 ppm de flúor.

 

Estudos feitos com diferentes concentrações de flúor nas pastas de dentes comprovaram cientificamente que é melhor usar uma pequena quantidade de pasta fluoretada convencional (acima de 1100 ppm de flúor) do que usar uma quantidade padrão de pasta com baixa concentração de flúor (500 ppm de flúor, por exemplo). Não existe nenhuma evidência científica de que uma pasta com baixa concentração de flúor exerça a mesma proteção anticárie do que uma com 1100 ppm.

PARA FINALIZAR

Mesmo que você não tenha detectado problemas na boca de seu filho, saiba que ele precisa fazer uma visita obrigatória ao Odontopediatra a cada 6 meses para um exame mais aprofundado.

Muitas vezes os pais não percebem que a criança tem placas bacterianas afixadas nos dentinhos, mas o Odontopediatra vai localizá-las facilmente.

Essa visita também servirá para avaliar a necessidade de aplicação extra de flúor – ou não. Na maioria dos casos, o flúor presente na pasta de dente é suficiente para prevenir a cárie, mas nem sempre a agenda de escovações é cumprida com eficácia pelos pais.

Dependendo dos hábitos de higiene e da alimentação da criança, a aplicação de flúor em forma de gel deve ser reforçada pelo Odontopediatra para prevenir as cáries insidiosas.

 

Espero ter esclarecido todas suas dúvidas em relação ao flúor. Sinta-se à vontade para me enviar perguntas, se meus comentários deixaram em você alguma dúvida.

 

Boa escovação!

Dra. Juliana Marchi
CRO-RS: 14.169 - Mãe de dois príncipes; - Especialista em Ortodontia pela ABO; - Mestre e especialista em Odontopediatria pela UFRGS; - Graduada pela USP; - Autora do site www.mundosemcaries.com.br.

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