Mães-solo: a solidão de quem tem que dar conta de tudo

Outro dia eu me perguntava por quê o termo “mãe-solo” chegou para substituir o antigo “mãe-solteira”. Entendi que, primeiro, ser mãe não tem nada a ver com o estado civil. Depois porque ninguém diz que pai que não é casado é “pai-solteiro”, é pai e pronto. Mas com a mulher… ah, com a mulher é diferente, tem que ter rótulo! E desses bem preconceituosos, que deixam claro que ela é “sozinha”.

 

A bem da verdade, é fato que muitas estão sofrendo de solidão mesmo. E solidão da pior espécie, pois envolve uma enorme responsabilidade e um cansaço sem fim. Esse cansaço, além de físico, é emocional, mental, visceral.

 

Quando uma mulher é mãe-solo ela sofre primeiro para conseguir um emprego (sem emprego ela não conseguirá sustentar o filho e nem a si). Depois, se ela conseguir o emprego apesar dos dois preconceitos (por ser mãe e por ser solo), certamente será um emprego aquém da sua capacidade. Isso vai acontecer porque o empregador vai logo imaginar as faltas e os atrasos por conta do filho e vai oferecer a essa mãe um salário menor e um trabalho facilmente substituível.

 

Conseguido esse trabalho, imagine quantas horas essa mãe terá que ficar longe do filho. E o outro grande sofrimento: com quem ele vai ficar? Com uma cuidadora? Na escola? Decidido isso, qual a qualidade dessas opções? Que garantias essa mãe terá que seu filho está bem assistido, bem cuidado e bem alimentado? Estará recebendo carinho e atenção, ou apenas o tratamento básico (troca de fralda, alimento, sono)? Como fica a cabeça dessa mãe com tantas questões? Será que ela conseguirá produzir no trabalho tão bem quanto um homem que é pai-solo?

 

E ao voltar para casa, cansada, depois de um dia exaustivo de trabalho, com pressões típicas do mercado? Como estará essa mulher ao reencontrar o filho? Ela voltará para casa com ele nos braços pensando em quê? Na casa que ainda precisa ser arrumada? Na comida que ainda precisa ser feita? No banho, na mochila que precisa arrumar para o dia seguinte? Que criatividade ela conseguirá ter para dedicar trinta minutos para brincar com o filho e garantir o vínculo dessa dupla? Que energia ela precisa ter para desligar-se do mundo e seus problemas e dedicar-se somente àqueles trinta minutos, como se mais nada existisse além daquele amor entre eles?

 

Que mundo é esse que não permite que essa dupla consiga viver plenamente a relação mãe-filho? Por que muitos meninos são criados, pelo inconsciente social, para abandonar seus filhos? Que falta de responsabilidade é essa que é incutida nos meninos desde cedo? Eles são meninos educados para serem “pegadores”, aventureiros… e quando crescem acham normal ter filhos como se não fossem deles e, sim, somente das mulheres. Afinal, desde muito cedo eles ouviram “segurem suas cabras porque meu cabrito está solto”. Ele pode. Elas precisam “se cuidar”.

 

Há muito a transformar em nossa sociedade. Enquanto mães continuarem sofrendo sozinhas esse mundo não terá solução. Somente a maternidade plena salvará a humanidade. Isso é sério. Como crianças que vivem a situação que descrevi acima podem criar amorosidade dentro delas? E, sem amorosidade, como teremos uma sociedade mais pacífica, mais calorosa, mais humana?

 

Vamos repensar esse modelo.

 

Homens, sejam responsáveis.

 

Famílias, acolham a mãe.

 

Empregadores, empreguem uma mãe.

 

 

 

Somos Mãeshttps://somosmaes.com.br/
A Somos Mães é uma ONG e uma empresa do setor 2,5 que nasceu em agosto de 2014. Com o objetivo de informar e acolher, produz conteúdo que impacta diariamente mais de 300 mil pessoas. Tem dois projetos incentivados pela Lei Rouanet.

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