Gonzalez, o defensor de bebês, o guru dos pais, o pop star do amor

por Letícia Fagundes

Muitas palmas e gritinhos marcaram o início da palestra do pediatra Carlos Gonzalez, em São Paulo, no dia 19 de novembro. O espanhol foi tão ovacionado que mais parecia um pop star e não um médico. Ele mesmo brincou: “gente, sou eu, o escritor de livros, nenhum cantor, nenhum astro.”

Apesar do sábado frio, a plateia estava lotada de famílias com bebês bem pequenos, inclusive. Cerca de 200 pessoas abriram mão de lazer ou de qualquer outro compromisso para ouvir o “guru”. Gonzalez virou um fenômeno mundial principalmente por conta do livro Bésame Mucho (Editora Timo), em que fala sobre criação de filhos com amor. Parece simples ou até óbvio. Quem quer criar filhos sem amor, não é verdade? Mas para o especialista, a maternidade hoje está, muitas vezes, distante de atitudes primitivas e instintivas para ficar mais complicada, regrada e, pior, contra bebês e mães.  

“Desde que o mundo é mundo, as mães carregam seus filhos”, diz ele que combate a ideia defendida por tantos colegas de que pegar toda hora as crianças no colo seria um grande pecado dos pais. Gonzalez é um frenético defensor do colo, da cama compartilhada, da amamentação em livre demanda. Acima de tudo, ele é defensor dos bebês. “Eu quero ensinar aos meus filhos que me chamem muito. E que saibam que quando me chamarem, eu lá estarei.”

PÚBLICO

Muitas mães amamentando, bebês confortos espalhados, pelo menos 1 sling em cada 5 corpos presentes. Algumas crianças brincando, outras grunhindo e tantas que choraram durante o evento. Claro, “seria impossível fazer isso sem acolher as crianças”, como explicou a organizadora e dona da Editora Timo, Ana Basaglia.

Evelyn e BenjaminDo meu lado direito havia mãe e filha que por várias vezes mamou no peito. Do meu lado esquerdo, outra mãe com um bebê pequenino, tão tranquilo que mal podia ouvi-lo. Eram Evelyn Garcia de Paula e Benjamin, de apenas 4 meses. Ela contou que conheceu Gonzalez por meio da pediatra do filho e que aposta numa linha mais naturalista desde a escolha do parto, que foi humanizado. Ela queria ouvir o espanhol para ver se encontrava algum conforto para a angústia atual: a volta ao trabalho que acontecerá em breve. Estava feliz por estar lá.

Homens eram minoria, mas fizeram-se presentes. Renato Baruki carregou, com ajuda do sling, durante toda a manhã, o pequeno Bernardo, de 5 meses. Ele estava com a mulher, Luciana Veloso, mas fez questão de dizer que não estava ali como acompanhante. Foi também para aprender mais. Ele leu Bésame Mucho durante a gravidez da esposa. “Mudou meu ponto de vista sobre o papel da mulher. E, pra mim, quem mais tem que mudar e ouvir o Gonzalez são os homens. As mulheres já sabem tudo”, opina ele completando que tem valido a pena seguir a chamada “criação com apego”. “Eu tenho um vínculo com meu filho que não vejo na maioria das relações que conheço.”

Já a pediatra Sandra Regina de Souza estava lá para entender como é a comunicação de Gonzalez com as famílias. Ela tem bastante afinidade com os assuntos trabalhados por ele, mas sabe que não é assim para a maioria dos pediatras brasileiros. “Na nossa formação, a gente aprende que medicalizar é mais fácil que cuidar. A gente aprende sobre adoecimento e nada se fala sobre favorecimento sadio, vínculo e a alegria trazida com a chegada de um bebê.”

Para ela, o preconceito de colegas com essa linha talvez esteja na questão de que o poder está mais nas mãos dos pais do que nas deles. “As famílias com um recém-nascido são vulneráveis e o poder de um médico pode ser mesmo infindável. Mas como lidar com o fato de que a autoridade não é sua?”, explica.

AMOR

Alguns grandes medos que cercam o universo de recém-nascidos são: por que não dormem ou só dormem com os pais por perto?, por que querem colo o tempo todo, por que mamam tanto? Para Gonzalez há algumas explicações, mas a principal delas está mesmo no amor.  

Renato e Bernardo“A maioria das mães não deveria se surpreender por essa fixação dos filhos por elas. Eles estão apaixonados, encantados por elas. Toda mãe já esteve alguma vez apaixonada. Não é assim? Queremos passar todo tempo juntos, fazer mil declarações, passar horas ao telefone. E nem mesmo tudo isso é suficiente.”

E para apoiar, suportar, aguentar? A melhor resposta, para ele, também está no amor. “Se a base – que é a mãe – não está segura, o bebê muito menos pode estar”, enfatiza Mas o que isso significa? No modo simples mas poderoso de tratar tanto tema espinhoso ele deixa a missão de que precisamos estar seguros e felizes de verdade para cuidar de alguém. Te faz bem pegar seu filho no colo? Te faz feliz dormir com ele? Por que não? Ele lembra: “Um bebê de 4 meses não pode ser independente. Uma criança de 2 anos ainda não pensa. É um animal, um cachorrinho. Então, esqueça. Ele não está te manipulando, te chantageando. Se ele chora é porque sofre. Se sofre, precisa de amor.”

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A Somos Mães é uma ONG e uma empresa do setor 2,5 que nasceu em agosto de 2014. Com o objetivo de informar e acolher, produz conteúdo que impacta diariamente mais de 300 mil pessoas. Tem dois projetos incentivados pela Lei Rouanet.

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