Zika Vírus

Não há a menor dúvida, a preocupação do momento é o vírus Zika.  Apesar de acometer a ambos sexos a preocupação reside principalmente entre as mulheres grávidas e os casais que desejam engravidar. Não é para menos, as noticias são desencontradas e muito pouco claras. E para piorar nenhuma autoridade assume e se presta a esclarecer. Pronto, o caos se instala.

 

Em minha opinião é o momento para manter a calma e refletir sobre o que temos de concreto. E desse momento em diante tomar decisões que vão se basear no que há de conhecimento e nas nossas necessidades. Até porque não será este um ultimo surto que passaremos!

 

Com base em dados disponíveis farei aqui algumas considerações e que espero sejam interessantes:

 

1. Faz sentido que Zika seja a responsável pelo suposto aumento de microcefalia: certos vírus podem alterar a embriogênese do sistema nervoso no primeiro trimestre; Zika está em crescimento; microcefalia está em crescimento. Dai se pensa que uma coisa causa a outra, sem perceberem que fazer sentido não é o mesmo que ser um fato.

2. Já existem bebês que nasceram com microcefalia e contato com Zika, mas quantos são normais e também tiveram contato com o vírus. Daí teremos uma ideia do grau de severidade.

3. Ponto MUITO importante: fala-se em um crescimento grande do número de registros de microcefalia, de 30 casos para 4.000 casos  (possivelmente já estamos com mais). Isto é bastante assustador e o número que passa dos milhares traz a conotação de um grande risco. As grávidas entram em pânico quando se fala em milhares de casos. No entanto, risco é uma probabilidade, advinda do total de desfechos dividido pelo total de pessoas vulneráveis ao desfecho. Desta forma, dividindo-se 1.200 pelo número médio de nascidos-vivos em um período de 3 meses (em torno de 600.000), chegamos a um risco de 0.19% de uma criança nascer com microcefalia nestes últimos meses, dada todas as possíveis causas, não apenas Zika. Se considerarmos o cenário catastrófico de que metade destes casos decorrem de Zika, diremos que 0.095% é o risco de microcefalia por Zika. Isto justifica pânico?

4. Lembro que antes do Zika a microcefalia já existia: citomegalovírus 2.6% de incidência de infecção, toxoplasmose 1.6%, sífilis 0.5%, herpes 0.2%, só para falar alguns. E 40-50% dos fetos afetados por estas infecções apresentam sequelas

5. No sistema público de saúde, provavelmente menos grávidas faziam ultrassom. Hoje vemos mutirões de ultrassom. E os médicos que fazem os exames estão muito mais atentos. Isso tudo indica que é muito plausível acreditar que no passado havia subnotificação.Desta forma, há plausível SUBnotificação do passado e SUPERnotificação do presente. Quantitativamente, parte do problema é criada por isso. Pelo menos parte do problema.

6. Se o Vírus é novo por aqui é velho em outro lugar, digamos Africa (a origem que se acredita), será que existe uma multidão de crianças acometidas por lá?

7. Até o presente momento não tomei conhecimento de um único trabalho cientifico que demonstre claramente a relação: Zika levando a microcefalia (estão em andamento em camundongos ainda).
*Em recentes estudos realizados pelo Instituto de Engenharia Celular da Universidade Jonhs Hopkins foi possível detectar a primeira prova experimental que demostrou um vínculo biológico entre o zika vírus e os casos de microcefalia. Durante a pesquisa foi constatado que o zika vírus, transmitido pelo mosquito Aedes Aegypt pode afetar diretamente no desenvolvimento do feto, que em muitos casos pode apresentar um quadro de microcefalia. O que pode se afirmar por enquanto é que o zika vírus pode infectar e danificar rapidamente células cerebrais em desenvolvimento nos fetos, o que resulta na má-formação craniana ou microcefalia. 

8. Não existe vacina. Na melhor das hipóteses teremos que esperar 3 anos para tanto. Assim a melhor maneira de se prevenir a doença e evitar o contato com o mosquito é combater os focos. Os mosquitos atacam pela manhã e ao entardecer, especialmente durante o calor e a chuva. Por isso é bom fechar a janelas nesses períodos e usar telas. Dê preferência vestir roupas claras e que cubram o corpo, calças compridas e mangas longas. Evitar também roupas coloridas que chamem atenção. Os odores são atrativos aos mosquitos assim evitar produtos de higiene que tenham cheiro forte (perfume, sabonete, cremes).
 
9. O repelente talvez seja nossa melhor arma hoje. O mais recomendado é a base de  Icaridina, substância mais duradoura e eficaz. Em concentração de 10% tem duração de 4 a 5 horas e em concentração de 20%, na apresentação gel, dura até 10 horas. A melhor forma de usar este produto é: aplicar a forma gel sobre a pele e o spray sobre a roupa. Outra opção de repelente com eficácia se chama DEET (dietil toluamida).

 

Trata-se de um repelente desenvolvido para o exército dos EUA, em 1946. Desde os anos 50 que se encontra à venda para a população em geral. Portanto, é um repelente com mais de 50 anos de uso e experiência. Outra substância é o IR3535 (20%). É também uma alternativa segura e eficiente contra os mosquitos transmissores da Dengue, Zika e Chikungunya, com proteção efetiva por 7 horas, e devido a seu alto nível de segurança, pode ser usado por crianças a partir de 6 meses de idade. Para evitar excessos e aumento de toxicidade não aplicar na pele que já esta protegida pela roupa.

Bom acho que já tenho pontos para se pensar. O problema é que se gera uma histeria e nenhum órgão serio no Brasil fala as claras a respeito. Apenas leigos e curiosos, quando não irresponsáveis. Daí temos um caldeirão de fofocas e teorias as mais variadas. Para mim o pior é orientar a não se engravidar. Ponha-se no lugar de quem esta grávida: sendo julgada por todos e completamente louca por tudo que se fala; Agora no lugar de quem quer engravidar vendo o tempo passar e apostando num futuro incerto de que vai melhorar, quando as chances dela podem piorar. O certo pelo duvidoso.

 

Cuidado temos que ter, está claro. O problema esta aí, mas temos que combater o mosquito e cobrar das autoridades muito isso. É inconcebível que na atualidade ainda estejamos vivendo como no século passado.
No mais prevenir, manter o foco no que é essencial a vida e aos sonhos

 

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Dr. Vamberto Maia Filho
Graduação em medicina pela Universidade Federal de Pernambuco (2001). Realizou residência médica em Ginecologia e Obstetrícia (2004) e em Reprodução Humana (2005) pelo Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP). Possui título de especialista em Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO/TEGO - 2004) e em endoscopia ginecológica (Video-laparoscopia e Histeroscopia - FEBRASGO - 2005). Doutor em ciências médicas pela UNIFESP (2010). Foi diretor médico do Centro de Reprodução Humana do Hospital e Maternidade Santa Joana - SP. Ex-sócio do grupo Huntington Medicina Reprodutiva. Médico do setor de Ginecologia-Endócrina da UNIFESP com enfase no ensino com linha de pesquisa em implantação embrionária. Responsável pelo ambulatório de hirsutismo do setor de Ginecologia-Endócrina da UNIFESP Doutor pela UNIFESP. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Experiência na área de Ginecologia, com ênfase em Reprodução Humana.

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