Realizei uma oficina sobre aleitamento materno falando sobre a perspectiva técnica, mas também emocional, visto que amamentar é algo íntimo e que desperta muitos sentimentos na mãe. O objetivo foi oferecer informação, esclarecer mitos e ajudar a identificar quando procurar ajuda.
O bebê e a mãe
No primeiro ano de vida, o bebê entende que a mãe é uma extensão de si mesmo, então o estado emocional da mãe influencia muito o estado emocional do bebê. A amamentação, além da questão nutricional, é um momento de vinculação da mãe e do bebê, que ouve a respiração e o coração da mãe enquanto mama e sente-se protegido com isso. Amamentar é troca de sons, cheiros e temperaturas e é um momento único entre a dupla.
O bebê e a dependência
O bebê é totalmente dependente e precisa da mãe para se alimentar e começar a entender o mundo. Cuidar de um ser tão dependente e frágil pode ser algo difícil, pois temos o costume de associar dependência à fraqueza, a algo menor. Mas ser dependente faz parte da natureza do bebê, ele não sobrevive sem cuidados, e não se desenvolve sem carinho e afeto. Esse estado fusional é essencial para ele, e vai diminuindo conforme o seu crescimento e amadurecimento.
Preparação para amamentação
Não é necessário preparar as mamas com buchas ou cremes, elas já são preparadas durante a gestação. Não se preocupe em preparar o seu corpo, e sim sua cabeça! Procure informações, reflita e questione o que ouvir de familiares e profissionais quando estes não apoiarem a amamentação. É essencial saber o que é uma pega correta e como fazer a ordenha manual. Caso necessário, procure uma consultora de aleitamento ou acompanhamento psicológico durante a gestação.
Começando a amamentar
É muito importante amamentar na primeira hora de vida, ainda na sala de parto! O ideal é que o bebê fique o máximo de tempo com a mãe. Seja paciente, mesmo que não saia nada, a proximidade do bebê com a mãe sugando o seio estimula a produção do leite. O bebê nasceu? Direto pro peito! Antes que o bebê fique sonolento, o que ocorre um tempo depois para que ele se recupere do parto. Não se preocupe com a quantidade e sim com a qualidade. Quando o bebê nasce, o seu estômago tem o tamanho aproximado de uma cereja no primeiro dia de vida. O colostro, primeira secreção a sair, é suficiente para o bebê. Ele é rico em betacaroteno, tem alto teor de proteína e é rico em imunoglobina (anticorpos). É a primeira “vacina” que o bebê vai tomar!
Começar cedo: bom para a mãe e para o bebê!
Iniciar a amamentação na primeira hora de vida é bom para a mãe, porque desencadeia no seu organismo um processo fisiológico que inclui a liberação de endorfina (bem-estar), ocitocina (contração uterina) e prolactina (aumento de atividade das glândulas mamarias). E é bom para o bebê! Segundo a Unicef, a amamentação na primeira hora pode evitar a morte de um número significativo de crianças em países em desenvolvimento, já que mais de um terço da mortalidade infantil ocorre durante o primeiro mês de vida.
Quanto tempo o bebê deve mamar?
O tempo de permanência na mama em cada mamada não deve ser estabelecido. O tempo de cada bebê será diferente, e não dá para padronizado acordo com o tempo dos adultos. O bebê não sabe o que é esperar, ele ainda não entende direito como funciona o mundo externo. É o seu mundo interno, puro instinto e desejo que comanda. Sendo assim, é recomendado realizar o aleitamento materno em livre demanda, isto é, sempre que o bebê solicitar e quanto tempo que ele necessitar.
Até quando amamentar?
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a amamentação deve ser exclusiva até os 6 meses de vida (sem água, chás ou sucos, apenas leite materno) e permanecer até os dois anos complementando com outros alimentos. Cada par mãe-bebê são únicos, e a decisão de continuar amamentando após o primeiro e segundo ano envolve muitos fatores externos e internos de cada família. O importante é saber que existem soluções para várias dificuldades que podem surgir na amamentação, assunto que falarei no próximo artigo.