Depois que o bebê nasce, o corpo da mulher sofre uma série de alterações. Mas além das mudanças físicas, ocorrem muitas mudanças emocionais e na rotina do casal. As idealizações feitas durante a gestação podem não corresponder com a nova realidade, que pode ser muito alegre, mas também cansativa, frustrante e muito trabalhosa. Esse pode ser um período vulnerável a ocorrência de alterações de humor como:
Baby Blues ou tristeza materna
No Brasil, 50% a 80% das mulheres podem ter baby blues (Andrade, 2002). Os sintomas são: irritação, ansiedade, medo, vontade de chorar sem motivo, entre outros. Isso acontece devido as mudanças hormonais e também inseguranças frente ao novo momento de vida. Esses sintomas podem durar até duas semanas após o nascimento do bebê. O apoio e carinho da família, amigos e parceiro podem ajudar muito. Converse sobre o que está sentindo, peça ajuda para as tarefas de casa e fique tranquila que vai passar!
A Depressão Pós-parto (DPP)
Os sintomas da DPP começam como os sintomas do Baby blues, mas pioram cada vez mais quando não se procura ajuda. A mulher começa a sentir-se como se não fosse mais a mesma pessoa, sente medo de não dar conta ou de machucar o bebê, sente-se exausta o tempo todo, com raiva, com vontade de sumir ou morrer. A DPP requer acompanhamento psicológico e psiquiátrico.
A animação abaixo exemplifica como é ter depressão:
https://www.youtube.com/watch?v=RTcmNwK4420
Qual a causa da DPP?
As causas podem ser físicas/genéticas, ambientais e emocionais. É uma combinação de vários fatores, entre eles: experiência de parto traumática, depressões anteriores ou durante a gestação, traumas, gravidez não desejada ou planejada, histórico de abortos, abusos, falta de rede de apoio, entre outros.
Os pais também podem ter DPP!
É menos comum, mas homens podem ter depressão após o nascimento do bebê. Eles relatam sentir-se excluídos da relação mãe-bebê, ansiosos e irritados pelo aumento da responsabilidade e cobranças em oferecer suporte para a mãe e o bebê.
Qual a diferença da DPP da do baby blues?
O baby blues é transitório. É como se fosse um “choque” de adaptação hormonal e emocional frente a nova situação. A DPP dura mais tempo e vai deixando a mulher incapacitada de cuidar de si e do bebê. Em casos mais delicados, pode colocar a sua vida e a vida do bebê em risco.
O que eu devo fazer se estiver com DPP?
Procure rapidamente ajuda profissional de um psicólogo e de um psiquiatra. O psiquiatra é um médico, que se especializou em transtornos mentais, como a DPP, e indicará o melhor remédio para aliviar os sintomas (Existem medicamentos que podem ser utilizados na gestação ou durante a amamentação). Já o psicólogo, oferecerá um espaço seguro e sigiloso, onde você poderá falar sobre tudo o que sente sem censura ou medo de julgamento, além de descobrir ou redescobrir o potencial que tem para superar tudo isso.
Um outro olhar sobre a DPP
A maternidade é um momento em que é necessária uma atitude para fora, para poder oferecer cuidados com o bebê. A depressão é uma pressão para dentro, onde a energia que deveria ir para o exterior se volta para o interior, a princípio, de forma destrutiva. Mas, ao se enfrentar o medo e encarar isso como uma oportunidade de autoconhecimento, pode-se aprender muito sobre si. Se suportar (dar suporte) para a sua dor e acolher-se, com acompanhamento profissional, essa situação pode ser transformadora e dar espaço para novas possibilidades. Qual o sentido da depressão na minha vida? Para o que eu devo olhar? O que não estou cuidando em mim? Entrar em contato com nossas feridas é doloroso, mas curativo!
Psicose Puerperal
A Psicose Puerperal é um quadro grave, delirante, e que pode ser alucinatório. Os sintomas se iniciam em média em 2 a 3 semanas e grande parte dentro de 8 semanas após o parto. São casos mais raros, de 1 a 2 por 1000 nascimentos, é imprescindível ter acompanhamento psiquiátrico e psicológico urgentemente porque coloca em risco a vida da mãe e do bebê.
Como fica o Bebê nos casos mais delicados?
Os adultos no entorno devem proteger e cuidar da mãe, para que ela possa descansar, realizar os tratamentos, sentir-se amada e protegida para poder realizar o mesmo com o bebê. Se a mãe está bem, o bebe fica bem. Em casos mais delicados onde a mãe não tem condições de cuidar do bebê, um cuidador (avó, avô, amiga, pai, tio) pode substituir esse cuidado.
Finalizando, alguns pontos importantes
– Não deixe de pedir ajuda por culpa ou vergonha. É difícil, é cansativo, mas passa e tem tratamento que podem evitar situações como suicídio, infanticídio, negligência com o bebê, impactos no desenvolvimento infantil, divórcios, entre outros.
– Não pense que é uma mãe ruim. Você pode estar doente e precisando de tratamento. Com ajuda, poderá ter uma experiência muito melhor de maternidade.
– Encontre alguém que possa oferecer suporte. Pode ser um amigo, marido, família. Existem diversos grupos de apoio virtuais ou presenciais que também podem ajudá-la.
REFERÊNCIAS
Andrade, M.A.G (2002) Considerações sobre o desenvolvimento psicoafetivo do bebe pré-termo. In Correia-Filho, L., & Corrê, M.E., França. P.S. (Orgs).
Novos olhares sobre a gestação e a criança até 0s 3 anos: saúde perinatal, educação e desenvolvimento do bebe. (pp. 438-457). Brasilia: LGE Editora.
Kaplan & Sadock, Synopsis of Psychiatry – Tenth Edition – 2007