O puerpério emocional é um período de alterações psíquicas que começam logo após o parto e pode durar em torno de dois anos após o nascimento do bebê. Alguns estudos já mostram que esse puerpério pode se estender até três anos.
Essa é uma fase de adaptação para a mulher. A chegada de um filho traz muitas mudanças, e existe uma maior vulnerabilidade emocional por conta de todas as alterações biopsicossociais que ocorrem.
Fatores como alterações hormonais, privação de sono, amamentação, rotina cansativa de cuidados com um recém-nascido, expectativas com a volta do corpo não-gravídico, falta de rede de apoio, crenças com relação a como a maternidade deve ser e pressões sociais, podem contribuir para intensificar o sofrimento emocional durante esse período.
É comum a mulher experimentar sentimentos de ambivalência, irritação e frustração, por conta da quebra de expectativas criada por uma falsa sensação de controle desenvolvida ao longo da gestação. Na realidade do dia a dia com o bebê, ela percebe que as coisas podem não sair como ela idealizava ou gostaria, e o processo de aceitação da maternidade possível pode ser vivido de forma mais sofrida caso exista rigidez e inflexibilidade.
A mulher também pode ficar um pouco mais ríspida e alerta com as pessoas a sua volta, principalmente nos primeiros dias do pós-parto, devido a um instinto de proteção com o bebê.
Além disso, no puerpério emocional vão ser vivenciados alguns lutos, como a perda do corpo gravídico, a perda da sua liberdade de escolher o que fazer e quando fazer, alterações na dinâmica do relacionamento com o parceiro, luto pela mudança de papéis sociais/familiares desempenhados, e também o luto pela mulher que ela era antes da maternidade.
A rede de apoio nessa fase tem um papel importante, pois ajuda a mulher a não se sobrecarregar com todas essas novas demandas, fornecendo um suporte físico, emocional e funcional para que ela passe por esse período de adaptação com mais tranquilidade.
Mas também é preciso ficar atento ao aparecimento de adoecimentos emocionais característicos desse período, como a depressão perinatal e psicose puerperal.
A depressão perinatal é um transtorno depressivo que pode se iniciar ainda na gestação e se estender no puerpério, ou iniciar no puerpério. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 10% dos casos de depressão se iniciam na gestação e 13% iniciam no puerpério. No Brasil, estudos apontam que cerca de 25% das mulheres desenvolvem depressão perinatal. Sua principal característica é o humor deprimido persistente, diminuição do interesse ou prazer, sentimento de inutilidade ou culpa excessiva e sentimento de esgotamento e sobrecarga. Esses sentimentos geralmente estão ligados aos desafios da maternidade e aos cuidados com o bebê.
Já a psicose puerperal é o transtorno de maior gravidade entre os transtornos mentais no puerpério, e acomete cerca de 0,1% a 0,2% das mulheres, com um episódio súbito de delírios, alucinações, ideias persecutórias e confusão mental. Esses sintomas geralmente aparecem nas duas primeiras semanas do puerpério. Em casos de psicose puerperal é preciso intervenção imediata de cuidados profissionais, pois existe um alto risco de suicídio e até mesmo infanticídio.
Por isso é fundamental manter um acompanhamento psicológico durante toda a gravidez e puerpério, para que sejam identificados os primeiros sinais desses adoecimentos e a mulher consiga receber o tratamento adequado o mais rapidamente possível, diminuindo os riscos para sua saúde e prognóstico, e para o vínculo afetivo com o bebê.
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