O desenvolvimento da fala infantil inicia quando o bebê começa a balbuciar e é comum que crianças a partir dos 6 anos de idade saibam falar corretamente todos os sons. Entretanto, muitos pais preocupam-se com a fala dos filhos a partir dos 3 anos, principalmente quando trocam o R pelo L, sendo frequente a pergunda de quando isso se transforma realmente em problema.
Conversamos com duas profissionais que nos auxiliaram na solução das dúvidas mais frequentes sobre o tema: Profa Dra Haydee Fiszbein Wertzner, associada ao departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupcional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, e com a fonoaudióloga Haydée Zamperlini, especialista em Audiologia pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia e especialista em Motricidade Orofacial pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia, mestre em Distúrbios da Comunicação- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP e articulista da Somos Mães.
Segundo a Profª Haydee Fiszbein, “em primeiro lugar é importante reforçar que o desenvolvimento da fala e da linguagem é gradual e começa desde o balbucio. Estimular a fala das crianças é fundamental e os pais são ótimos nessa tarefa. O resultado dessa estimulação será um bebê que balbucia muito produzindo diferentes sons. Em seguida, entre 12 e 18 meses, a criança começa a produção das primeiras palavras e, à medida em que ouve as palavras, observa os outros falando e sente os movimentos que ela mesma faz com a língua e lábios.
Assim, ela vai aprimorando a produção dos sons e compreendendo a importância de cada um e como eles diferenciam as palavras. Por volta dos três anos a fala da criança é inteligível e vai se aprimorando até que, por volta dos seis anos, ela é capaz de falar praticamente todas as palavras, mostrando alguma dificuldade em palavras polissílabas e com sílabas complexas como por exemplo pedregulho, paralelepípedo, etc. Então, quando uma criança por volta dos três anos de idade manifesta uma fala que só é compreendida pelos familiares mais próximos ou por seus cuidadores já é recomendável procurar um fonoaudiólogo que irá avaliar a situação e orientar a melhor conduta.”
A fonoaudióloga Haydée Zamperlini alerta que é muito comum que a ansiedade dos pais para que os filhos falem corretamente ocasione a “disfluência de fala”, mais conhecida como gagueira. Haydée comenta que crianças que apresentam rinites alérgicas ou otites de repetição normalmente apresentam trocas na fala. Chupetas e mamadeiras favorecem e modificam as arcadas dentárias, posicionamento de lábios e língua, ocasionado uma má erupção dentária, o que pode trazer alguma dificuldade na fala também. “A intervenção de uma fonoaudióloga pode ajudar na retirada dos hábitos de sucção e orientação”, diz Haydée.
Haydée Zamperlini completa que a pediatria normalmente espera até os 5 anos de idade da criança para encaminhá-la ao profissional de Fonoaudiologia. Entretanto, como as crianças começam a alfabetização aos 4 anos, 4 anos e meio, é normal que a criança sinta uma certa confusão no início da escrita porque o que ela fala não reflete o que está escrevendo. Por esse motivo, Haydée recomenda a orientação fonoaudiológica aos 4 anos de idade.
A Profª Haydee Fiszbein diz que “dentre as dificuldades mais encontradas entre as crianças e que caracteriza alteração denominada transtorno dos sons da fala, no português brasileiro, observamos mais a substituição ou ausência dos sons “l, lh, r” (como em lápis, olho, e careca), nos encontros consonantais (substituição ou ausência dos sons “l, r” em palavras como blusa ou prato), a substituição dos sons “ch, j” respectivamente por “s, z” (como “save” para “chave”), e a substituição dos sons “v, z, j” respectivamente por “f, s,ch” (como “faca” para “vaca”) e dos sons “b, d, g” por “p,t.k” (como “pato” para “bato). Há vários fatores que interferem na velocidade do desenvolvimento da fala.”
Conversar com a criança sem o uso excessivo de diminutivos e falando corretamente, contar histórias e cantar são atividades muito importantes para o aprendizado infantil.
“Seu filho pode apresentar algum problema enquanto está aprendendo a falar e se comunicar, porém, na maioria das vezes, esta dificuldade pode desaparecer naturalmente até os 5 anos de idade com apenas uma boa orientação de um fonoaudiólogo”, completa Haydée Zamperlini.