Quem nos acompanha já sabe que defendemos o aleitamento materno, por isso, não poderíamos deixar de divulgar um projeto como o De Peito Aberto, filme documentário sobre amamentação, que será lançado em 2017.
Além de mostrar a situação da amamentação no Brasil com depoimentos de especialistas, De Peito Aberto também está acompanhando mulheres desde o início do aleitamento até os seis meses.
Conversamos com a idealizadora do documentário Graziela Mantoanelli sobre o projeto e a amamentação.
SMPV – Como surgiu a vontade de fazer o documentário?
Graziela – Durante o primeiro ano amamentando minha filha passei por inúmeras dificuldades, das mais banais às mais complexas. Tive sorte, pois encontrei pessoas que apoiavam o aleitamento e me auxiliaram a construir uma história de sucesso. A pergunta que mais vinha em minha cabeça era: “por que ninguém fala sobre essas coisas?” E o sentimento depois era: “não quero que ninguém mais passe por isso”. Tanto que em vez de dar presente de chá de bebê, passei a dar para minhas amigas uma consultoria em aleitamento depois do nascimento. Hoje em dia o sentimento que fica é: “se eu não tivesse encontrado a pessoa certa eu estaria entre as estatísticas de desmane precoce”. Com essas questões me permeando fui convidada a produzir um documentário sobre alimentação, chamado “Comer o quê?” (que acabamos de lançar). Durante todo o processo de filmagem, foi reforçando em mim a ideia de que a alimentação sem consciência iniciava muito precocemente. Daí para decidir fazer um documentário sobre aleitamento foi um pulo.
Comecei a pesquisar filmes sobre amamentação e vi que a maioria pendia para um olhar técnico informativo. O desejo era passar informação de qualidade e também criar uma identificação, tocar na sensibilidade e na alma de cada mulher, criar imagens reais, para que mães de todo o Brasil possam se sentir representadas. Queremos informar, contar histórias, levantar questões, fomentar a discussão e o mais importante: tocar as pessoas.
Fui escolhendo as pessoas a dedo e apresentando o projeto que teve 100% de adesão. Formei uma equipe muito engajada, que está dedicando seu tempo e coração ao projeto desde de dezembro de 2014 no projeto.
Quais são os objetivos?
Queremos auxiliar na batalha contra o desmame precoce, engajar mais e mais pessoas a cuidar da nossa próxima geração, auxiliando um início de vida mais natural, saudável e humanizada. O filme busca influenciar positivamente na prática da amamentação, com informação útil e de qualidade. Queremos valorizar as mulheres que se dedicam a amamentar seus filhos, enfrentando preconceitos, falta de estrutura e de políticas públicas voltadas para o tema. Pretendemos fomentar e fortalecer as redes de mães de todo o país, com um instrumento de busca de melhores condições para o exercício da amamentação, além de capacitar mulheres em período de amamentação a enfrentar as dificuldades do amamentar, com dicas, métodos e práticas de comprovado sucesso. Por fim, queremos estimular a criação de políticas públicas nas áreas da saúde, do trabalho, da educação e da assistência social a lidar com o tema de maneira mais avançada.
A amamentação é romantizada, assim como a maternidade no geral, muitas pessoas têm a ideia de que é simples e fácil, mas nem sempre é assim. Como passar por esse momento? Alguma dica para as mães de primeira viagem?
O melhor remédio para isso tudo é a informação de qualidade, a partir de fontes confiáveis. Infelizmente os profissionais de saúde não recebem formação adequada e atualizada para lidar com o aleitamento e isso gera insegurança nas mães. A propaganda enganosa dos leites artificiais vende uma ideia equivocada de que é possível substituir o leite materno. É sempre bom ter uma alternativa caso exista algum problema grave que impeça a mãe de amamentar, mas isso acabou se tornando primeira opção para muitas mães desavisadas. Outro ponto importante é constituir ou integrar uma rede de apoio com outras mães, trocando informações e percepções sobre o processo de aleitamento e o desafio do puerpério como um todo. Se puder procurar uma consultoria de amamentação, isso pode ser um bom caminho. Se não puder, procurar o banco de leite, que é uma política pública que realmente funciona no Brasil.
Muitas mães são julgadas por escolherem amamentar até dois anos ou mais, a amamentação em público, às vezes, ainda pode ser um tabu. Como você enxerga essas situações e como mudar?
Isso é reflexo de atraso, preconceito e má informação. O remédio para isso é conscientização, articulação e pressão das mulheres e iniciativas de valorização da mulher. O Brasil está em um caminho assustador de retrocesso com as atuais propostas voltadas para o direito da mulher. Mas também despertou um novo ânimo por parte das mulheres, que estão se organizando e unindo forças para enfrentar e defender seus direitos.
Para saber mais sobre o projeto, acesse o site: https://www.depeitoaberto.net/