Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou não haver mais dúvidas de que o zika vírus tem relação direta com a microcefalia, a Síndrome de Guillain-Barré e outras desordens neurológicas. Segundo os últimos dados divulgados pelo Ministério da Saúde, os estados brasileiros reportaram cerca de 7.534 casos de bebês com suspeita de microcefalia, condição em que a cabeça e o cérebro da criança são menores do que os de outras da mesma idade e sexo.
De acordo com o obstetra Antonio Fernandes Moron, coordenador do Departamento de Medicina Fetal do Hospital e Maternidade Santa Joana, as gestantes precisam redobrar a atenção em relação ao vírus e ter acompanhamento médico durante todo o período, principalmente no começo da gestação. “Avaliar mais cedo é fundamental para identificar a doença e fazer um pré-natal mais minucioso, pois existe um maior risco de abortamento”, explica o médico.
O vírus da zika afeta células cerebrais do feto, principalmente nos quatro primeiros meses de gestação, o que causa a microcefalia. Como o vírus tem uma tendência a atacar células nervosas, uma vez que ele atinge o cérebro ainda em formação há o risco das células não se desenvolverem, fazendo com que o órgão e cérebro permaneçam pequenos.
De acordo com o dr. Moron, quando é detectado por meio do ultrassom que a medida da cabeça do bebê não corresponde ao tamanho normal para aquele período, é preciso fazer um acompanhamento minucioso por meio de exames como tomografia, ultrassonografia e ressonância magnética. Assim, é possível ver se há alterações inflamatórias ou hemorragias.
Um importante estudo do dr. Moron publicado no “BJOG: An International Journal of Obstetrics and Gynaecology”, fala sobre a relação da microcefalia com o zika vírus e retrata o caso de uma paciente que foi notificada com a doença na região do nordeste e que descobriu a microcefalia após uma série de exames no Hospital e Maternidade Santa Joana. “É importante as pessoas saberem que o vírus pode atingir pessoas de todas as classes sociais, tanto quem frequenta hospitais públicos como privados e que o vírus promove uma grave síndrome da infecção congênita no feto. Por isso, é preciso redobrar a atenção, mesmo no inverno, em que a incidência do mosquito é menor”, conta o especialista.
Ele ressalta que é importante ficar atento aos sintomas da doença durante a gestação como febre baixa, coceira, dor de cabeça, dores nas articulações, vermelhidão na pele e conjuntivite, que costumam durar de 2 a 7 dias. Assim sendo, sobretudo as grávidas devem ficar alertas ao sentirem esses indícios e logo procurarem serviço médico. Outro ponto importante é que é possível contrair o vírus e não apresentar nenhum sintoma e, caso a grávida seja identificada com a doença, o tratamento envolve medicamentos para dor e febre, descanso e hidratação.
Para se prevenir, as gestantes devem usar repelentes apropriados, procurar não ficar em áreas com incidência maior de mosquitos, como jardins e locais com mato; usar roupas de mangas compridas e calças, dormir em lugares protegidos por mosquiteiros, além de utilizar telas protetoras em janelas e portas. Outra dica é usar roupas claras, que ofuscam a presença do mosquito por brilharem muito. “Além disso, o uso de preservativos é altamente recomendado durante a gestação, pois o vírus pode ser transmitido por meio da relação sexual”, conclue o doutor Moron.
Sobre os repelentes, segundo o Ministério da Saúde, as três substâncias capazes de afastar o mosquito Aedes aegypti são icaridina, IR3535 (etil butilacetilaminopropionato) e DEET (dietiltoluamida). Repelentes que contêm DEET (dietiltoluamida), com concentração entre 10% e 50%, podem ser utilizados por grávidas. Aqueles que contêm icaridina também estão liberados para gestantes e para bebês acima de 2 anos. Também há opções de repelentes naturais, como a citronela e a andiroba, que não têm contraindicações, mas não possuem eficácia comprovada.
Texto: MáquinaCohn&Wolfe