Ser uma profissional “bem-sucedida” ou ser mãe?
Dedicar-se à família ou à carreira?
A frequência com que ouvimos esses questionamentos, quer seja em nosso trabalho como coaches executivas e de carreira quer seja em nosso convívio familiar e social, não deixa dúvidas de que este é um ponto central na vida das mulheres de hoje.
E digo mulheres de hoje, pois somos, me incluindo, mulheres na faixa de pouco mais de 40 anos, da primeira geração de mulheres que foram à escola com a expectativa de saírem com seus diplomas em busca de uma posição no mercado de trabalho*.
Muito prazer!
Meu nome é Renata, sou mãe do André e do Felipe e coach na Korkes & Cintra Coaching. Comecei a trabalhar com 18 anos, dando aulas de inglês em uma escola, e segui uma carreira executiva de quase 25 anos no mercado financeiro antes de fazer minha transição de carreira para o coaching. Por mais de uma vez tive dois empregos simultâneos, uma dessas vezes com o meu filho mais velho com menos de 3 anos e amamentando o meu mais novo, com cerca de 7 meses.
Meu primeiro contato com o coaching foi justamente quando nasceu meu filho mais velho. Eu havia adiado por muitos anos a maternidade, depois de presenciar e conviver com profissionais pra lá de competentes que, ao retornarem de licença maternidade, eram colocadas em posições menos relevantes, de menor visibilidade, simplesmente pelo fato de terem se tornado mães. Minha interpretação desses sinais à época era de que a escolha pela maternidade significaria uma renúncia a uma ascensão profissional; e que para não perder a curva ascendente na carreira, sendo mãe eu teria que escolher me dedicar 200% para a empresa, para tentar mostrar que sim, eu ainda seria capaz de ser uma ótima profissional, “apesar” de ser mãe.
No início, de forma inconsciente, mas depois de forma mais clara, esse dilema adiou minha opção pela maternidade ao “limite” do relógio biológico.
E, então, me tornei mãe. A opção foi por permanecer no mercado de trabalho, por diversas razões. Foi a minha escolha. Não quis ter que decidir entre um ou outro; queria ser mãe e também profissional. Por que não?
No entanto, foram inevitáveis as dúvidas e questionamentos que começaram a surgir. Eu que sempre gostei tanto da vida executiva, dos projetos, dos resultados, de gerir equipes e desenvolver pessoas, comecei a perceber que o peso das coisas estava diferente. Sim, a satisfação de um projeto bem feito, de contribuir com a empresa e a sociedade, de sentir o reconhecimento pelo meu esforço, a gratificação de formar equipes e profissionais continuava lá, mas tinha algo diferente que tinha ganho prioridade em minha vida. A maternidade mudou minhas prioridades.
E o que fazer então? O Coaching foi uma das formas que encontrei de ressignificar meu caminho, entender como poderia conciliar a maternidade com uma atividade profissional, e ao longo de alguns anos fui fazendo uma transição para uma atividade que passou então a estar alinhada com meus valores.
Em coaching, valor é aquilo que nos é muito importante, características marcantes que guiam nossas atitudes e decisões, ainda que não tenhamos consciência dos mesmos. E eles podem mudar de prioridade ao longo da vida; não significa que deixamos de ser quem somos, mas sim que passamos a ter outras prioridades de acordo com nossa vivência e os eventos da vida. E que evento é a maternidade!
Mas essa é a minha história, a minha experiência.
Para as duas perguntas que iniciam esse texto, acredito que não se trata de encontrar “a” fórmula, a regra, o cenário perfeito ou o caminho certo. Troca de experiências são importantes pois nos mostram que não estamos sozinhas, nos mostram formas alternativas, nos inspiram, nos trazem um sentimento de pertencimento, nos dão força.
Mas o que funciona para uma pessoa não necessariamente funciona para outra. Somos seres únicos: a história é de cada uma, a escolha é de cada uma. Ninguém tem exatamente a mesma experiência de vida que nós. Nossos valores são únicos. Cada pessoa tem seu sonho e sua busca.
Um processo de coaching genuíno é um apoio para que a pessoa encontre suas próprias respostas, a partir do que é relevante para si. Um processo de coaching não dá respostas; não dá conselhos; não diz qual é o caminho. Ele auxilia na reflexão e traz clareza para a busca do que faz sentido para cada um, em sua singularidade.
E o desejo desta coluna é que ela apoie cada uma a caminhar da melhor forma possível por sua própria história.
Vamos?
(*) se tiver interesse em ler um pouco mais sobre a entrada das mulheres no mercado de trabalho, veja este meu artigo no Linkedin.
Renata Cintra
Mãe do André e do Felipe, Renata é coach formada pelo ICI – Integrate Coaching Institute e tem especializações em programas certificados pela ICF – International Coaching Federation, como: Quantum Evolution Coaching, Assessent de Liderança Janusian, Facilitadora de Coaching Games Points of You. Membro do ICF – International Coaching Federation.
Fez sua transição de carreira para o coaching após quase 25 anos de atuação no mercado financeiro, em posições de diretoria e superintendência em bancos, seguradoras, empresas de cartões. Foi também consultora de negócios, professora de cursos de pós-graduação, e é co-autora de livro sobre finanças sustentáveis, tenho sido vencedora da última edição do Prêmio Ethos Valor e finalista do Prêmio Itaú de Finanças Sustentáveis.
Sócia na Korkes & Cintra Coaching, é especializada em coaching executivo e de carreira, para indivíduos e grupos; atua em grandes corporações e com pessoas em fase de transição de carreira ou que buscam desenvolver sua empregabilidade. Co- idealizadora do Reluz – Coaching de Carreira em Grupo, trabalho realizado também socialmente.