Paciente conseguiu engravidar depois de fazer cirurgia para resolver o problema
Cristilene Pires Athu, 42, descobriu que tinha endometriose em 2017, quando começou seu planejamento familiar. Após um ano de consultas com ginecologistas e exames que não indicavam alterações, ela não conseguia engravidar e decidiu buscar ajuda com especialistas em reprodução humana. Foi através de uma ressonância magnética com preparo intestinal que veio o diagnóstico de endometriose profunda.
“Eu não tinha sintomas além da cólica, e cresci ouvindo que isso era normal. Mas, com o tempo, as dores aumentaram, especialmente na lombar, como se fosse dor no nervo ciático. O fluxo menstrual também se intensificou, e minha qualidade de vida piorou muito. Em 2021, conheci a Dra. Carol Orlandi, que identificou que a endometriose já comprometia minhas trompas e intestino”, afirma ela.
Esse foi um caso bastante desafiador, segundo a ginecologista Dra. Carolina Orlandi, que foi quem operou Cristilene. “Avaliamos o planejamento reprodutivo da paciente antes do procedimento. Em casos de endometriose, é fundamental considerar a idade da paciente e se há necessidade de preservação da fertilidade, como o congelamento de óvulos antes da cirurgia”, explica.
A endometriose é uma doença crônica que afeta aproximadamente 1 em cada 10 mulheres no mundo. Caracteriza-se pela presença de células do endométrio, a camada interna do útero, fora do órgão. Essas células se modificam ao longo do ciclo menstrual e, quando não ocorre a gravidez, descamam e são eliminadas. No entanto, quando localizadas fora do útero, podem causar inflamações, dor e outros sintomas debilitantes.
A causa exata da endometriose ainda não é completamente compreendida, com diversas teorias sugerindo diferentes mecanismos. O que se sabe é que a doença impacta significativamente a qualidade de vida das mulheres, sem uma cura definitiva, mas com tratamentos focados no alívio dos sintomas e na melhoria do bem-estar.
Nos últimos anos, tem-se discutido se há um aumento real no número de casos de endometriose ou se houve apenas um avanço na detecção da doença. O fato é que tanto a ocorrência quanto os diagnósticos aumentaram, com exames como a ressonância magnética e o ultrassom com preparo intestinal sendo fundamentais para a identificação da doença.
Os principais sintomas da endometriose são conhecidos como os “6 Ds”:
- Dismenorreia – Cólica menstrual intensa.
- Dispareunia – Dor durante a relação sexual, especialmente quando o pênis toca o fundo da vagina.
- Dificuldade para engravidar – Cerca de 50% das mulheres com infertilidade têm endometriose.
- Dor pélvica crônica – Pode ocorrer durante ou fora do período menstrual.
- Disquesia – Dor e alterações intestinais, como dor ao evacuar.
- Disúria – Dor ou sangramento ao urinar.
Esses sintomas podem se manifestar de forma variada, dificultando o diagnóstico rápido da doença. Muitas mulheres levam até 10 anos para receber um diagnóstico correto devido à falta de investigação adequada ou a exames imprecisos.
Não foi o caso de Cristilene que já sabia que passaria por cirurgia. “Então fui comunicada que precisaria fazer uma cirurgia de 4 horas para remoção dos focos da doença.”
“A cirurgia da Cristilene foi um procedimento bastante desafiador. Durante a operação, identificamos uma lesão no intestino, o que exigiu o envolvimento de uma equipe especializada em cirurgia intestinal, incluindo um proctologista. Isso reforça a importância do cuidado multidisciplinar no tratamento da endometriose”, conta a Dra.
Após a cirurgia, Cristilene passou por um período de tratamento com bloqueio hormonal antes de iniciar a fertilização in vitro. Então veio a notícia que ela tanto esperava. “Fiz duas tentativas, e na segunda eu engravidei. Hoje, tenho minha bebezinha de três meses, Maria Vitória, e estamos muito felizes. A cirurgia transformou minha vida, pois hoje não tenho mais dores”, conta com sorriso no rosto.
É importante lembrar que o tratamento da endometriose tem como objetivo principal melhorar a qualidade de vida da paciente. Nem toda mulher com a doença precisa de cirurgia; muitas conseguem um controle eficaz através de bloqueio hormonal, mudanças no estilo de vida, gerenciamento do estresse, nutrição adequada e uso de medicamentos anti-inflamatórios e antioxidantes.
Casos cirúrgicos são indicados quando:
- A paciente não consegue controle dos sintomas com tratamento clínico.
- Há lesões graves que comprometem órgãos vitais, como intestino ou bexiga.
- A endometriose está impedindo a gravidez e uma cirurgia pode aumentar as chances de sucesso em tratamentos de fertilização.
Outro ponto essencial é que a endometriose é uma doença complexa que exige conscientização, diagnóstico precoce e um tratamento adequado para garantir melhor qualidade de vida para as mulheres afetadas. Com mais informação e avanço nos exames, é possível reduzir o tempo de diagnóstico e proporcionar um atendimento mais eficiente para quem convive com essa condição.
Sobre a Dra. Carolina Orlandi
Com 22 anos de experiência na área da saúde, a Dra. Carolina Orlandi é formada pela Universidade Federal do Pará, com residência médica no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo e mestrado em ginecologia pela Universidade Federal de São Paulo. É coordenadora técnica no projeto PROADI SUS, onde colabora na capacitação de profissionais e revisão de protocolos do Ministério da Saúde para o cuidado ginecológico em todo o Brasil.