Anticoncepcionais hormonais e risco de câncer de mama

Desde a grande repercussão do estudo WHI (Women’s Health Initiative), quando se questionou de forma dura e direta o uso indiscriminado da terapia hormonal (TH) nas mulheres (no caso na menopausa), o uso de hormônios passou a ser visto com grande preocupação por médicos e pacientes, gerando um ambiente de insegurança contínua.

 

Neste mês novos estudos trouxeram mais debate sob o tema. Um estudo publicado em uma importante revista médica (New England Journal of Medicine) de grandes proporções analisou a população da Dinamarca usuária de anticoncepcionais hormonais e as possíveis relações de risco para câncer de mama quando comparadas a mulheres não usuárias. Analisou-se 1,8 milhão de mulheres dinamarquesas com idades entre 15 a 49 anos o que torna o resultado bem significativo.

 

O estudo baseou sua análise em bancos de dados de registros nacionais da Dinamarca, um país com uma medicina bem organizada e coletiva. Os resultados mostram um pequeno aumento no risco de câncer de mama em usuárias de anticoncepcionais hormonais, o que causou grande temor entre as usuárias. Contudo, isto não é uma novidade. O risco de câncer de mama em usuárias de TH já é há muito questionado. O ponto é que ficou mais real.  O uso de qualquer tipo de anticoncepcional hormonal se associou a 1,3 novos casos de câncer de mama para cada 10.000 mulheres ao ano. Este aumento de risco se mostrou tanto maior quanto maior o tempo de uso dos anticoncepcionais hormonais. Contudo, não houve risco aumentado entre as mulheres que utilizaram contracepção hormonal por menos de 5 anos.

 

Alguns pontos são interessantes de serem analisados. O estudo não encontrou diferença significativa no risco de câncer de mama em relação ao esquema hormonal da pílula ou preparações. Portanto, não há contraceptivo pior ou melhor;  O risco sumiu após a interrupção do anticoncepcional demonstrando que a TH não modula a questão genética do processo; e para as mulheres abaixo de 35 anos (maioria), o estudo mostrou acréscimo de 0,2 casos de câncer de mama em cada 10.000 mulheres ao ano. Já no grupo de mulheres acima de 35 ou 40 anos foi maior o risco. O resultado confunde-se com a epidemiologia do câncer de mama que acomete mais mulheres nessa faixa etária.

 

Apesar de toda repercussão negativa que o estudo teve, na mesma edição outro estudo publicado nos EUA (Centers for Disease Control and Prevention – CDC) com usuárias e ex-usuárias de anticoncepcionais orais (35 e 64 anos de idade), onde 4.575 com câncer de mama e 4.682 controles, mostrou que o risco relativo de câncer de mama não se alterou entre os grupos, entre as formulações, em relação a raça ou antecedentes familiares de câncer de mama. A conclusão foi que o uso atual ou pregresso de contraceptivos não modificou o risco de câncer de mama. Este resultado vem de acordo com mais outro estudo do Royal College of General Practitioner do Reino Unido. Ambos demonstraram que os anticoncepcionais não mudam o risco de câncer de mama.  

 

A própria FEBRASGO apressou-se em ratificar que, mesmo com riscos mínimos (e contestáveis) de câncer de mama atribuível ao uso de anticoncepcionais hormonais, deve ser considerado como muito baixo e que os grupos que usam o método contraceptivo tem já uma baixa incidência de risco para o câncer de mama. Assim o método não deve ser descontinuado. Cabendo em caso de dúvidas a necessidade de conversar com seu ginecologista e manter os critérios de elegibilidade criados pela OMS (Organização Mundial de Saúde) em sua última edição de 2015 para nortear o seu uso de forma segura.

 
Dr. Vamberto Maia Filho
Graduação em medicina pela Universidade Federal de Pernambuco (2001). Realizou residência médica em Ginecologia e Obstetrícia (2004) e em Reprodução Humana (2005) pelo Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP). Possui título de especialista em Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO/TEGO - 2004) e em endoscopia ginecológica (Video-laparoscopia e Histeroscopia - FEBRASGO - 2005). Doutor em ciências médicas pela UNIFESP (2010). Foi diretor médico do Centro de Reprodução Humana do Hospital e Maternidade Santa Joana - SP. Ex-sócio do grupo Huntington Medicina Reprodutiva. Médico do setor de Ginecologia-Endócrina da UNIFESP com enfase no ensino com linha de pesquisa em implantação embrionária. Responsável pelo ambulatório de hirsutismo do setor de Ginecologia-Endócrina da UNIFESP Doutor pela UNIFESP. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Experiência na área de Ginecologia, com ênfase em Reprodução Humana.

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