Por Taimi Haensel – BLWbb
O que é o BLW?
BLW é a sigla para Baby-led weaning. Em uma tradução literal, poderia ser compreendido como o desmame guiado pelo bebê. Esse desmame, todavia, deve ser entendido em sua acepção britânica: o leite materno (ou a fórmula, na falta deste) é o alimento principal. É dele que o bebê obtém a maioria dos nutrientes que necessita. Os demais alimentos serão apresentados de forma complementar durante fase de introdução alimentar (6 meses a dois anos).
A expressão foi criada pela Dra. Gill Rapley, profissional do Reino Unido. Em sua atividade como agente de saúde visitando as residências, a Dra. Rapley verificou que muitas famílias permitiam a seus bebês experimentar os primeiros alimentos de forma autônoma. O bebê sentava junto com a família na hora das refeições e se alimentava da comida servida a todos, havendo a interferência de adultos apenas para cortar os alimentos em um formato adequado ao seu desenvolvimento. E mais: o bebê escolhia o quê e em que quantidades comer.
Diversos benefícios foram observados com essa prática. Dentre eles, haveria bem menos stress para o bebê e para a família que a forma usualmente empregada na atualidade: um cuidador tentando “convencer” um bebê a comer uma “papinha” ofertada na colher.
A Dra. Rapley vem escrevendo diversos livros de sucesso1 e pesquisas científicas sobre o tema2.
Por que optar pelo BLW?
Como a própria Dra. Rapley diz, BLW não é método. É abordagem. Nesse paradigma, o bebê é o protagonista do seu aprendizado e da sua relação com a comida.
Permite-se que o bebê conheça o sabor, textura, aroma de cada alimento. Não é mais o adulto que decide o quanto o bebê deve comer. É o bebê que aprende a compreender o quanto é necessário para a sua saciedade.
Há, ainda, uma série de relatos sobre os benefícios do BLW em diversos estudos científicos3.
A decisão sobre a abordagem a ser seguida por cada família é muito particular e precisa ser tomada em conjunto com os profissionais de saúde que atendem o bebê.
O BLW na prática
O BLW é indicado na literatura para bebês maiores de seis meses, que já fiquem sentados de forma ereta sozinhos. O pediatra deve ser consultado sobre o início da introdução alimentar.
O bebê senta junto com a família na mesa e come no mesmo horário. Pode sentar no colo dos pais ou em um cadeirão tradicional aproximado da mesa.
A comida deve ser a mesma para todos. A ideia por trás disso é que se não é adequado para o bebê, não é adequado para a família. A comida é apresentada em cortes e formatos que sejam adequados para o bebê pegar e levar a boca. Por exemplo, para um bebê que inicia a introdução alimentar com seis meses, pode-se oferecer legumes na forma de palitos. Arroz e leguminosas (feijão, lentilha etc.), quando introduzidos, podem ser apresentados como bolinhos moldados na mão.
Quando o bebê estiver comendo esses alimentos, diminui-se o tamanho dos pedaços para desafiá-lo. Nesse ritmo, muitas famílias relatam que o bebe aos 10 meses apresenta interesse pelo talher. E, com um ano, já esta dando garfadas em sua festinha de aniversario.
Nossa família e o BLW
A nossa família optou pelo BLW. Queríamos que nossa bebê apreciasse a hora das refeições tanto quanto nós. E assim foi. Nossa bebê aprendeu a comer conosco, vendo os pais comerem. Bebês aprendem muito por imitação. Por que isso seria diferente em relação à comida? Nos primeiros meses, apenas cortávamos os alimentos em formatos apropriados à maturidade motora dela.
A hora da refeição deveria ser um momento tranquilo, não um campo de guerra gerador de frustração. Em particular, atraiu-nos no BLW a perspectiva respeitosa. O bebê aprende a comer na medida em que desenvolve as habilidades motoras necessárias e come na medida em que tem fome. De novo, o protagonismo está no bebe, não nas expectativas e conveniências dos adultos.
A introdução alimentar aqui em nossa casa já terminou. Para nós, o BLW trouxe, como benefício, um excelente desenvolvimento da motricidade fina, memórias felizes da nossa filha criando gosto pelos alimentos e uma bebê bastante segura e autônoma em vários aspectos da sua vida. Sobraram fotos muito divertidas dessa época.
Não é fácil, contudo. Os dois primeiros meses (que correspondem, aproximadamente dos 6 aos 8 meses) são de muita bagunça, muitas vezes ao dia. Para ajudar com isso, hoje o mercado conta com diversos produtos para ajudar as famílias a diminuírem o tempo limpando e arrumando. A nossa empresa, a BLWbb, veio nessa esteira.
Seguidamente, a introdução alimentar coincide com o fim da licença maternidade. A mãe precisa retomar suas atividades profissionais bem no momento que o bebê vai aprender a comer. Como estar presente nesse momento tão importante da construção da relação alimentar do bebê se a nossa estrutura social impõe o afastamento dos pais? Essa é uma reflexão mais longa que precisa ser feita pela nossa sociedade com urgência.
1 – O primeiro deles será lançado no Brasil dia 25 de novembro de 2017, pela editora Timo, com o título “Baby-led Weaning BLW – O Desmame Guiado pelo Bebê”. Alguns dos outros livros já publicados na língua inglesa pela autora, em co-autoria com Tracey Murkett são: “Baby-Led Weaning: The Essential Guide to Introducing Solid Foods and Helping Your Baby to Grow Up a Happy and Confident Eater”; “The Baby-Led Weaning Cookbook: 130 Recipes That Will Help Your Baby Learn to Eat Solid Foods and That the Whole Family Will Enjoy”; The Baby-led Weaning Quick and Easy Recipe Book”.
2 – Veja-se, exemplificativamente:
Rapley, G. (2015) ‘Baby-led weaning: The theory and evidence behind the approach’, Journal of Health Visiting, 3(3): 144-151.
Rapley, G. (2016) ‘Are puréed foods justified for infants of 6 months? What does the evidence tell us?’, Journal of Health Visiting, 4(6): 289-295.
Rapley, G. (2016) ‘Is spoon feeding justified for infants of 6 months? What does the evidence tell us?’, Journal of Health Visiting, 4(8): 414-419.
Rapley, G. (2016) ‘Starting solid foods: does the feeding method matter?’, Early Child Development and Care, DOI: 10.1080/03004430.2016.1250080.
3- Veja-se, exemplificativamente:
Brown, A., Wyn Jones, S. and Rowan, H. (2017) ‘Baby-led weaning: The evidence to date’, Current Nutrition Reports. Available online: DOI: 10.1007/s13668-017-0201-2.
Townsend E., Pitchford NJ. Baby knows best? The impact of weaning style on food preferences and body mass index in early childhood in a case–controlled sample. BMJ Open 2012; 2:e000298. doi: 10.1136/bmjopen-2011-000298.