A Unidade de Terapia Intensiva Neonatal concentra os principais recursos como aparelhos, materiais e profissionais para amparar o bebê prematuro ou recém-nascido que precisa de cuidados especiais. Por causa de sua saúde frágil, os bebês são encaminhados por inúmeros motivos, seja para ganhar peso ou para tomar medicamentos que auxiliam no seu desenvolvimento saudável. Nesse espaço, os pequenos são cercados de equipes profissionais e aparelhos que asseguram sua saúde e monitoram suas funções vitais. Para bebês prematuros, a sua internação na UTI Neonatal é importantíssima, pois quanto menor a idade gestacional maior o risco de mortalidade e complicações tais como hemorragia cerebral, insuficiência renal, infecções.
A cada 100 partos, 10 são prematuros. E, as causas principais para o bebê nascer antes da hora é ruptura da bolsa, contrações precoces que geralmente são causadas por condições como infecções ou até hipertensão. Mas, 50% das mulheres que tiveram parto prematuro não apresentaram nenhum sinal ou fator de risco identificável no começo da gestação. O papel dos pais nesse processo de internação do bebê prematuro na UTI Neonatal é acompanhar todos os processos e estar do lado do pequeno nessa fase da vidinha dele.
Quando o bebê precisa ficar na UTI muitas famílias se desesperam e a apreensão toma conta, mas hoje as maternidades se preocupam em humanizar esse ambiente e deixar as famílias tranquilas para passarem por esse momento da melhor forma possível. Conversamos com a médica pediatra neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Joana, Filomena Bernardes Melo, sobre o assunto. Confira abaixo a entrevista.
SMPV – Quais são as indicações para a UTI neonatal e por que é necessária?
Dra. Filomena: A UTI neonatal recebe bebês prematuros, além de outros com problemas relacionados a aspectos nutricionais, neurológicos ou ainda malformados. Estar na UTI Neonatal não significa ter risco iminente de morte, mas riscos potenciais de complicações que variam de acordo com o motivo que o levou ao setor. É complicado você explicar para uma mãe que o bebê que está entrando numa UTI, existem critérios, indicações para o nenê ser observado na UTI, desde a prematuridade ou porque teve algum sintoma que precisa de observação ou tratamento. É lá que vamos observar corretamente, vamos monitorar o coração, a equipe estará atenta a qualquer sinal de coisas sérias que podem acontecer e se você perceber na hora certa talvez não se torne uma coisa grave. Isso também é importante, então hoje valorizamos a conduta preventiva e não só o tratamento. Temos que observar, porque o sintoma às vezes é fugaz, aconteceu e em alguns minutinhos não tem mais, então a UTI neonatal serve pra isso também, não é só pra resolver, mas é pra você monitorar, investigar e aí afastar os riscos e liberar na hora certa.
Muitas famílias não reagem bem quando o bebê precisa ir para UTI.
Em geral a família fica inconformada pela criança estar na UTI, mas está lá para ficar bem, porque se estiver num quarto ou em casa, há potencialmente riscos e se não cuidarmos na hora certa pode haver danos, as vezes irreversíveis, e na UTI, você faz esse trabalho, você monitora e cuida daquilo na hora certa.
Prematuro é uma caixinha de surpresas, essa surpresa pode ser boa ou pode ser ruim e cada minuto de um prematuro extremo dentro da UTI tem que ser festejado, porque ele conseguiu superar os obstáculos. O caminho é saber das possibilidades, não optar pela negação da informação, tem que conhecer tudo, mas não pode deixar de acreditar.
Como é possível tornar a UTI neonatal humanizada?
É um pouco complicado você pensar nisso em termos de imitar um ambiente de casa, não é bem assim, até porque é bebezinho, não interage ainda, mas aí você faz isso pensando nos pais. Então incentivamos a comemorar o ganho de peso, por exemplo, quando faz aniversário de quilinho, eu sempre brinco “ah mudou de centena, eba, vamos comprar um presentinho” e isso, simbolicamente, vai significar que foi uma vitória, então a gente sempre transforma as coisas dessa forma. Se você não der valor pra essas pequenas vitórias, que para eles são grandes, então não tem como você dar energia pra eles.
Temos 3 momentos na UTI que chamamos de “Horário do Psiu”, uma hora de manhã, outra a tarde e também de madrugada, quando apagam-se todas as luzes, ninguém pode falar e nem pode tocar os bebês e temos o descanso absoluto. Adotamos também o método canguru, os pais escolhem os horários que eles vão fazer (pelo menos duas horas) e eles ficam pele a pele com os bebês em uma cadeira confortável. Isso é excelente, já começa a interação entre o bebê e os pais e, assim, as atenções se voltam para outras coisas, porque o risco vai existir sempre, então não tem como você falar disso toda hora, temos que trabalhar as coisas boas, senão há um desgaste emocional. Quando eles vão para a longa permanência, muda um pouquinho, porque eles já são mais velhos e começam a interagir, as paredes têm bichinhos, cores, deixamos as mães levarem móbiles, já ligamos músicas e vídeos infantis. E quando eles estão com mais de seis meses, podem usar as cadeirinhas com brinquedinhos.
Longa permanência é a partir de que idade?
Se o bebê vai ficar além de 40 dias na UTI ele já pode ser admitido na unidade de longa permanência. Uma vez uma mãe me falou: “é uma imitaçãozinha do quarto do bebê” e eu fiquei bastante feliz. E é assim mesmo, porque lá tem a fazendinha, o mar, a selva. A gente fala que é uma transição para tentar mandar para casa. Quando os bebês entram na longa permanência, as mamães começam a ajudar, já funciona como um aprendizado para a saída.
Como funciona a visitação?
A visita na verdade é das 9 às 21 horas, as mães podem ficar mais tempo e os pais precisam sair nos horários da amamentação. A restrição é só essa, durante esse período eles podem ficar e acabam fazendo os horários que eles podem, ficam bem à vontade. É o mais humanizado possível e quando as mães estão no processo de aprendizado para ir pra casa, elas ficam bastante porque precisam aprender a dar banho, fazer as trocas de fraldas, amamentar, oferecer as medicações. Orientamos também os pais a cuidarem daqueles que tem necessidades especiais, como traqueostomia ou gastrostomia, precisam aprender a higienizar, a manipular, colocar alimentação, é importante que saiam seguras neste sentido também.
Quais são os profissionais envolvidos na UTI neonatal?
É uma equipe grande, temos nas 24 horas, médicos, enfermeiras, técnicas de enfermagem e fisioterapeutas. Passando em horários determinados todo dia temos a equipe de fonoaudiólogos. E conforme a necessidade especial de cada bebê temos ainda especialistas, como cirurgiões pediátricos, neurologistas, geneticistas, endocrinologistas, nutrólogos, urologistas, ou seja, uma equipe grande de especialistas.
E tem alguma ajuda para os pais?
Tem sim, temos uma psicóloga, ela faz um trabalho com eles, promove reuniões, grupos de trabalho entre os pais, onde cada um pode contar a sua história. Ou quando uma família está em um momento delicado, ela vai conversar com eles e dar este apoio.
Uma mensagem para as mamães que estão passando por esse momento.
Primeira coisa é que precisamos tentar evitar, lógico, e, evitar é fazer um bom pré-natal, pensando assim: “vou cuidar de mim, vou cuidar da minha gestação”, mas se feito isso não foi possível evitar o nascimento prematuro, então a sua parte foi feita, você tentou, agora vamos cuidar do bebê sem se achar culpada e sempre acreditar que pode dar certo. A palavra que move uma mãe de prematuro é a fé junto com o amor. E a maior virtude que se conquista lá dentro, quem não tem, é a paciência, porque você vai ter que aprender que não é quando você quer, é quando bebê estiver preparado. Tem que focar na parte boa, para as conquistas, e se não deu certo ou aconteceu alguma coisa ruim aquele dia, não tem como não chorar ou ficar triste e isso faz parte, mas depois vem o amanhã e o amanhã pode trazer a superação, a conquista de uma melhora. A minha mensagem é essa: não pode perder a fé, tem que acreditar que vai dar certo, respirar fundo, ficar do lado, é muito importante ficar pertinho.