Desde 2015, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP) implantou o programa de apadrinhamento afetivo para crianças e adolescentes que vivem em abrigos, assim, jovens com poucas chances de adoção têm a oportunidade de construir vínculos fora da instituição.
O padrinho ou madrinha não tem a guarda da criança, mas se torna uma referência e proporciona a vivência familiar a ela. A pedagoga Débora Ablas, que apadrinhou dois garotos, explica: “Você tem um compromisso moral com a criança, esta relação é acompanhada pela Vara da Infância e Juventude (VIJ) até o menor completar a maioridade. É um compromisso sério e duradouro para ambas as partes!”
Estão aptos a participar do programa as crianças entre 7 e 17 anos e 11 meses ou portadores de necessidades especiais de qualquer idade.
Tipos de apadrinhamento
Afetivo – Visita o afilhado em datas acordadas e pode retirá-lo para passeios e atividades fora da instituição.
Prestador de Serviço – voluntários que atendem em abrigos de acordo com a sua especialidade.
Financeiro – a ajuda é somente financeira ao afilhado, à instituição ou ambos.
Quem pode apadrinhar
Qualquer pessoa pode se candidatar ao apadrinhamento, mas é necessário passar por um curso de formação e também podem escolher se desejam uma criança ou um grupo de irmãos. “O candidato participará de alguns encontros e receberá uma cartilha, a fim de conhecer o perfil dos “afilhados”, geralmente o apadrinhamento ocorre apenas nos casos de crianças que já estão sem esperanças de ser adotadas”, explica Débora.
Como funciona
No caso de apadrinhamento afetivo, a cada quinze dias as crianças encontram-se com as famílias para passeios e eventos. A ideia é que os padrinhos passem finais de semana, feriados e parte das férias com o afilhado para oferecer vínculo afetivo e oportunidades.
No caso da pedagoga, que ainda não tem a autorização formal, é combinado as saídas com horário marcado: “já participei de dois encontros coletivos de padrinhos com os afilhados, de uma reunião na VIJ e agora estamos aguardando a visita da equipe técnica em nossa casa para a próxima etapa que deve ser uma audiência com a juíza do projeto. Quando estiver de posse do termo de apadrinhamento daí poderemos viajar, passar férias, entre outros”.
Maioridade
Um dos objetivos do projeto é ajudar os adolescentes a encontrar um caminho depois da maioridade, quando saem do abrigo. Débora conta que pretende ajudá-los a encontrar uma ocupação e moradia: “esta não é a obrigação dos padrinhos, mas como sou militante da área social e como sofri muito no processo de desabrigamento de um garoto do abrigo. Desta vez farei diferente! E em seguida é uma preocupação natural de família, ver como estão, aconselhar… Convidar para o almoço, etc.”
Carinho
O projeto não é só benéfico para as crianças e adolescentes, mas também para quem decide apadrinhar.
A maioria chega a adolescência com muita insegurança e falta de laços afetivos fora do abrigo.
De acordo com Débora, a principal necessidade é de afeto: “para eles é muito importante conviver numa casa em que possam pegar uma fruta na geladeira, assistir tv na hora que quiserem. Mas no abrigo tudo é muito institucionalizado. Outro dia eu pedi ao meu afilhado que pegasse um tomate enquanto cozinhava e este simples pedido o paralisou! Ele não sabia como se comportar porque desde o acolhimento não pode acessar a geladeira. Então, o convívio fora da instituição é o melhor que podemos oferecer muitas das vezes!”
E ela finaliza com um recado para quem pensa em apadrinhar: “eu diria que recebo muito mais do que dou. O carinho, o sorriso ao te ver chegar, isso tudo não tem preço!”