A conjuntivite preocupa o ano inteiro, especialmente no inverno, pois o tempo frio faz com que as janelas sejam fechadas para evitar as correntes de ar e esse hábito facilita a proliferação do vírus ou da bactéria da conjuntivite. O ideal, portanto, é evitar ambientes fechados e permitir que o ar circule mantendo janelas e portas, no mínimo, semi-abertas.
Para esclarecer as dúvidas mais frequentes sobre o assunto, falamos com a Dra. Amaryllis Avakian Shinzato, oftalmologista pela Universidade de São Paulo e médica responsável pela clínica AACO (Amaryllis Avakian Clínica Oftalmológica), e com a Dra. Renata Bastos Alves, Coordenadora do Setor de Oftalmologia do Hospital América de Mauá.
SMPV: Quais os tipos de conjuntivite mais perigosos para as crianças e como diferenciar cada um deles?
Dra. Amaryllis: Precisamos diferenciar a conjuntivite do recém-nascido e de uma criança de 1 a 3 anos. No recém-nascido existem conjuntivites graves (mais frequente nos primeiros dias de vida, do 5º ao 12º dia de vida). É provocada por uma bactéria (Chlamydia) quando a mesma está presente na mãe e passa para a criança, via parto normal. A criança apresenta olho vermelho, inchaço e secreção. O tratamento deve ser feito logo no início. O tipo mais grave é causado pela bactéria que causa a Gonorréia e se chama conjuntivite gonocócica. Essa conjuntivite pode levar à cegueira. Quanto menor a criança (principalmente se for recém-nascido), o quadro de conjuntivite é muito mais grave.
Nas crianças maiores é semelhante ao adulto – com conjuntivite viral, bacteriana e alérgica. Nenhuma dessas tem a gravidade de levar à cegueira ou complicações. A conjuntivite alérgica é crônica, levando a criança e coçar muito os olhos e ter outras consequências – pela coceira que ela vai ter desde pequena – e provocar doenças como Ceratocone e deformidades do olho. É muito difícil diferenciar os tipos de conjuntivite olhando externamente, só conseguimos diferenciar no exame oftalmológico. Recomendo para que os pais fiquem atentos aos sinais nos olhos da criança como inchaço, secreção e vermelhidão e levem ao oftalmologista para o tratamento específico evitando assim consequências permanentes na visão da criança.
Dra. Renata: As conjuntivites alérgicas são provocadas por pó, poeira, pelos de animais, alimentos, e podem ser químicas ou térmicas (queimaduras por substancias químicas, água ou óleo quente, exposição por tempo prolongado ao sol sem proteção adequada), e todas podem afetar as crianças. As que causam queimaduras das estruturas oculares também são extremamente perigosas pois, dependendo da gravidade, podem ocasionar opacidade da córnea e comprometer o desenvolvimento da visão.
SMPV: Qual tipo de conjuntivite é mais frequente nas crianças e por quê?
Dra. Amaryllis: A conjuntivite mais comum em crianças acima de um ano é a viral, que acontece a partir de um quadro de gripe ou resfriado, por exemplo, que acaba acometendo os olhos. Ou também pode pegar dos pais, de algum familiar e de pessoas que vão visitar. Normalmente, a conjuntivite viral é curada sozinha, em aproximadamente uma semana, e pode passar de um olho para o outro. É necessário limpar os olhos com soro fisiológico gelado, não usar água boricada (que era um costume antigo) e evitar receitas caseiras como pingar urina porque podem prejudicar a visão. Essa criança deve ter seus travesseiros, lençóis e toalhas separadas para evitar o contágio. Conjuntivites bacterianas também afetam as crianças, porém não são tão frequentes quanto as virais mas precisam de tratamento específico, no caso o colírio antibiótico. Por isso, reforço a importância de levar a criança ao oftalmologista para saber qual é o tipo e o tratamento mais adequado. A conjuntivite alérgica normalmente tem outros sintomas de alergia como rinite, alergia à poeira e ao cloro e os pais vão notar a irritação nos olhos sempre que houver contato repetitivo com esses fatores.
SMPV: Quais são os tratamentos mais eficazes para cada tipo?
Dra. Amaryllis: Existem conjuntivites mais leves, em que a limpeza com soro fisiológico gelado, água filtrada gelada ou água fervida gelada é suficiente. E há outras conjuntivites que precisam de tratamento com colírios específicos como antibióticos ou antialérgicos, mas só o oftalmologista pode orientar qual o tipo de conjuntivite, sua gravidade e o tratamento adequado. Não é possível os pais descobrirem em casa e fazer o tratamento correto. Nossa orientação é começar com a limpeza e, se após 1 a 2 dias houver piora no quadro ocular, é necessário levar imediatamente em um oftalmologista.
Dra. Renata: No caso das conjuntivites alérgicas é necessário, além de identificar o fator causal (para que seja removido do entorno da criança), fazer uso de colírios antialérgicos e lubrificantes, que mantém a superfície ocular sempre limpa. Em casos mais graves e resistentes ao tratamento clássico, o uso de agentes imunossupressores oculares tem demonstrado excelentes resultados. Casos de acidentes oculares com queimaduras necessitam avaliação e intervenção médica imediatos. É importante lembrar que a maioria das conjuntivites é contagiosa e a criança deve evitar frequentar a escola.