Quem já amamentou certamente ouviu alguma dica do que comer ou não para melhorar a produção de leite, evitar cólicas e prevenir alergias no bebê. Mas, afinal, quanto disso é verdade?
Há poucos estudos sobre alimentos que aumentam a produção de leite “Uma canjiquinha quente ajuda! ”, sua avó deve ter dito. No caso de alimentos à base de milho, caso da canjica, o raciocínio é de que eles fornecem mais carboidratos, principal fonte de energia do corpo. “Esse aumento de calorias disponíveis pode colaborar para a produção do leite”, explica Loretta Campos, pediatra consultora em Aleitamento Materno pelo IBCLC.
Já com a cerveja preta, caldos e chás, o que ocorre é que eles fornecem líquido para o organismo. Além da sucção do bebê, a disponibilidade de água é o principal fator a influenciar no leite da mãe, então o ideal é tomar entre 3 e 4 litros ao dia. Mas isso não quer dizer que seja preciso abrir mão dos alimentos indicados pela sabedoria popular.
A exceção fica por conta da cerveja. O álcool é contraindicado no período pelo risco de efeitos adversos no bebê. “Se a mãe deseja beber, recomendo que o faça em apenas uma dose, e com um intervalo de três ou quatro horas até a próxima mamada”, aponta Loretta.
Veja as dicas que a pediatra separou pra você:
1. O que mais importa é o cardápio como um todo. O organismo gasta cerca de 500 calorias a mais por dia. Assim, a amamentação exige mais refeições e nutrientes no corpo da mãe, em especial carboidratos e proteínas, e, quanto mais natural for o cardápio, melhor.
2. O que causa gases na mãe não necessariamente dará cólica no bebê, outro mito. “Isso não é comprovado pela ciência. A cólica é um processo natural do desenvolvimento infantil e cada bebê reage de uma maneira diferente a ela”, comenta Loretta. “Claro que, se a criança passa mal quando a mãe come um item específico, talvez seja o caso de retirá-lo do cardápio, mas é raro que isso aconteça, e essa possibilidade deve ser avaliada pelo médico. Não recomendamos nenhuma dieta preventiva para cólicas”, destaca a médica.
3. Fora que as regras de um regime podem acabar provocando estresse, o que também não é nada bom para o aleitamento. A boa notícia é que, como a amamentação demanda muito do organismo da mulher, os quilos vão embora com facilidade quando ela segue uma dieta equilibrada.
4. A cafeína está liberada, mas em pequenas quantidades.
5. Tomar leite de vaca não provoca alergia à proteína do leite no filho.
A APLV (sigla de alergia à proteína do leite de vaca) é uma reação do sistema de defesa do organismo às proteínas do leite. O único tratamento comprovadamente eficaz da alergia ao leite ainda é a dieta isenta de todos os alimentos que possuem as proteínas do leite por 6 a 12 meses, dependendo da idade e tipo de reação que a criança apresenta. Os medicamentos ajudam a minimizar os sintomas, mas eles não tratam a alergia.
Um tratamento em estudo atualmente é o de dessensibilização. Mas ele é indicado apenas para crianças com reações mediadas por IgE* e que apresentam alergias persistentes, ou seja, não melhoram até os 5 anos de idade. Ele não é indicado em todos os casos, pois existe risco e não há garantia de eficácia. Além disso, são poucos os médicos que estão realmente capacitados a realizar esse procedimento.
*A IgE total é uma imunoglobulina cuja concentração sanguínea depende da idade. Indivíduos com asma brônquica, rinite ou dermatite atópica apresentam valores maiores do que a população geral. Níveis elevados podem indicar alergia, mas não fazem referência ao alérgeno.
A Dra. Loretta Campos, além de Pediatra pela Universidade de São Paulo (USP), é Consultora Internacional em Aleitamento Materno (IBCLC), Consultora do sono, Educadora Parental pela Discipline Positive Association e membro das Sociedades Goiana e Brasileira de Pediatria. A médica aborda temas sobre aleitamento materno com ênfase na área comportamental da criança e parentalidade positiva.
Instagram: @dralorettacampos