Quantas gestações precisam ser perdidas até investigarem a trombofilia?

*Por Dr. Mauricio Chehin, especialista em Reprodução Assistida

A trombofilia é uma condição marcada por uma predisposição à formação de coágulos sanguíneos, que pode dificultar a implantação do embrião, aumentando o risco de aborto e provocar complicações sérias durante a gravidez. Ainda assim, é angustiante pensar que, em pleno 2025, a trombofilia continua sendo pouco investigada nos exames de rotina ou nas tentativas iniciais de concepção, mesmo entre pacientes com histórico familiar sugestivo.

Na prática clínica, vemos um padrão doloroso: mulheres que tentam engravidar por conta própria, sofrem abortos espontâneos, passam por um luto profundo e somente depois são orientadas a fazer o rastreamento para trombofilia, por ser uma doença sem manifestação de sintomas iniciais. Essa falha de antecipação custa tempo, saúde física e emocional, e muitas vezes a chance de uma maternidade mais tranquila. 

Recentemente, tivemos luz sobre o problema quando a influenciadora Maíra Cardi, de 41 anos, anunciou uma nova gravidez três meses após perder seu primeiro bebê com o marido Thiago Nigro, por ter sido diagnosticada com trombofilia. Mas, ainda há muito a se discutir sobre o problema, visto que – de acordo com dados do Ministério da Saúde, ele afeta cerca de 1 em cada 1.000 pessoas no Brasil. 

Hoje a  medicina já dispõe de recursos eficazes. O uso de anticoagulantes durante a gravidez, como a enoxaparina, reduz significativamente os riscos para pacientes com diagnóstico confirmado. O que falta, portanto, não é tratamento, é atenção. É escuta. É prevenção.

Há um mito perigoso que ainda ronda os cuidados com a fertilidade: o de que algumas gestações “simplesmente não vingam” e que “é preciso esperar mais perdas para investigar”. Isso não apenas desumaniza a dor da paciente, como posterga decisões que poderiam ser tomadas de forma proativa.

Em clínicas especializadas, como a Huntington Medicina Reprodutiva, o rastreamento da trombofilia já faz parte do protocolo prévio aos tratamentos de fertilidade, especialmente em mulheres com idade avançada, falhas de implantação ou histórico de abortos. Esse é o caminho que a saúde pública e a medicina preventiva precisam trilhar com mais agilidade.

Toda mulher com fatores de risco — como histórico de trombose, embolia pulmonar, pré-eclâmpsia, abortos recorrentes ou familiares com esses quadros — deveria ter acesso a uma avaliação específica antes mesmo de tentar engravidar.

Estamos falando de uma condição invisível aos olhos, mas cujos efeitos são devastadores quando ignorados. Quanto mais cedo reconhecermos a trombofilia como um fator relevante na saúde reprodutiva feminina, mais gestações saudáveis serão possíveis e menos histórias de perda precisarão ser escritas.

Dr. Mauricio Chehin é especialista em Reprodução Assistida e diretor médico da Huntington Medicina Reprodutiva.

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A Somos Mães é uma ONG e uma empresa do setor 2,5 que nasceu em agosto de 2014. Com o objetivo de informar e acolher, produz conteúdo que impacta diariamente mais de 300 mil pessoas. Tem dois projetos incentivados pela Lei Rouanet.

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